terça-feira, 2 de janeiro de 2018

O primeiro banho


Há coisas na vida que nos fazem sentir em casa por sabermos que são inamovíveis. Falo, por exemplo, da “Música no Coração” pelo Natal, o Circo de Monte Carlo e as valsas de Strauss pelo Ano Novo. Se regressássemos de uma viagem lunar, e acordássemos de um coma profundo ou se regressássemos de outro quejando lugar onde não contactássemos o mundo, ao ligar a TV saberíamos que tudo estava bem já que de outra forma não poderia ser se essas tradições televisivas festivas eram mantidas. A esse propósito dou, mais uma vez, de caras com os corpos tiritantes dos loucos banhistas de Ílhavo, e outros lugares ainda mais inóspitos, que alegres e foliões se atiram ao mar (com mais ou menos roupa e até roupa nenhuma) no que chamam de primeiro banho do Ano. Como sempre as entrevistas avulsas aos loucos nadadores, novos e velhos para mostrar que a idade não é documento no que toca à ousadia e que termostatos avariados há-os de todos os tamanhos. Numa dessas entrevistas, uma menina que integrava o grupo deu a resposta mais doce e verdadeira à pergunta sobre o que a levava a fazer parte deste agrupamento, disse ela qualquer coisa como isto “É divertido, é como uma reunião de pessoas que são malucas”.
É isso mesmo miúda! Que haja maluquice, de todas as idades, no dealbar o ano. Só assim acharemos forças para levar por diante 365 dias da infinita modorra dos que se acham donos do mundo, certamente investidos de toda a seriedade, sem sorrisos e sem margem para a criatividade. Não tenho coragem para nadar no frio, mesmo no Verão tremelico e nunca me ocorreria em pleno Inverno atirar-me às ondas, mas agradam-me sempre reuniões de pessoas malucas, sinto-me sempre em casa. Bem hajam os que as mantêm!
Foto Ricardo Carvalhal

Sem comentários:

Enviar um comentário