Há coisas na vida que nos fazem sentir em casa por sabermos
que são inamovíveis. Falo, por exemplo, da “Música no Coração” pelo Natal, o
Circo de Monte Carlo e as valsas de Strauss pelo Ano Novo. Se regressássemos de
uma viagem lunar, e acordássemos de um coma profundo ou se regressássemos de outro
quejando lugar onde não contactássemos o mundo, ao ligar a TV saberíamos que
tudo estava bem já que de outra forma não poderia ser se essas tradições televisivas
festivas eram mantidas. A esse propósito dou, mais uma vez, de caras com os
corpos tiritantes dos loucos banhistas de Ílhavo, e outros lugares ainda mais inóspitos,
que alegres e foliões se atiram ao mar (com mais ou menos roupa e até roupa nenhuma)
no que chamam de primeiro banho do Ano. Como sempre as entrevistas avulsas aos
loucos nadadores, novos e velhos para mostrar que a idade não é documento no
que toca à ousadia e que termostatos avariados há-os de todos os tamanhos. Numa
dessas entrevistas, uma menina que integrava o grupo deu a resposta mais doce e
verdadeira à pergunta sobre o que a levava a fazer parte deste agrupamento,
disse ela qualquer coisa como isto “É divertido, é como uma reunião de pessoas que
são malucas”.
É isso mesmo miúda! Que haja maluquice, de todas as idades,
no dealbar o ano. Só assim acharemos forças para levar por diante 365 dias da
infinita modorra dos que se acham donos do mundo, certamente investidos de toda
a seriedade, sem sorrisos e sem margem para a criatividade. Não tenho coragem
para nadar no frio, mesmo no Verão tremelico e nunca me ocorreria em pleno
Inverno atirar-me às ondas, mas agradam-me sempre reuniões de pessoas malucas,
sinto-me sempre em casa. Bem hajam os que as mantêm!
Foto Ricardo Carvalhal |
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